
Os que se auto excluem, que ficam à espera de que o governo faça tudo por eles, estão-se a excluir da vida política e, como tal, não poderão assumir por completo a sua humanidade.
(O texto que se segue foi publicado em Outubro de 2005, depois das eleições autárquicas, no Cinco Quinas. Reproduzo-o com pequenas alterações estilísticas, devendo ser lido no contexto em que foi escrito)
No livro, The Accursed Moutains, sobre a Albânia, Robert Carver conta que ao chegar a uma pequena aldeia a estrada estava obstruída, dificultando a circulação e causando prejuízo aos habitantes. A desobstrução da estrada podia ser feita em poucas horas por meia dúzia de homens, mas esses homens preferiam sentar-se nos cafés, conversando e fumando, indiferentes ao problema. O que poderia ser resolvido em poucas horas arrastava-se sem solução à vista por uma razão muito simples: consertar a estrada era tarefa do governo, não deles.
Relembro esta história para falar de eleições, de eleitores e de eleitos. No concelho do Sabugal apresentaram-se [em 2005] quatro candidaturas à Câmara e Assembleia Municipal. Todos estão de parabéns porque todos venceram ainda que nem todos tenham alcançado totalmente os objectivos que se tinham proposto. Todos elegeram membros para a Assembleia Municipal, instituição com muita importância nos destinos do município. Relativamente à Câmara Municipal, o CDS e a CDU não elegeram nenhum vereador, mas o concelho poderá, com certeza, contar com os seus prestigiosos desempenhos, em sede da Assembleia Municipal; exercício que poderá ser tanto mais empenhado e relevante porquanto, não tendo assento no executivo eleito, a sua voz será reforçada na Assembleia.
O voto é soberano. No entanto, a vida democrática não se esgota no voto. Eleitores e eleitos não estão condenados a ficar de costas voltadas durante 4 anos, como se muitos tivessem delegado nuns poucos os destinos da autarquia. Pelo contrário, o debate público, a comunicação social livre e responsável, o debate de ideias, de projectos e de programas, a auscultação ao sentir das populações, a partilha de conhecimentos, a disponibilidade de apoio a projectos espontâneos que as pessoas, individual ou colectivamente apresentem, a participação nas actividades, etc, etc, são formas de vida democrática em que temos o direito e o dever de participar. Também, por isso, a Assembleia Municipal, as reuniões do executivo camarário, as Assembleias de Freguesia são públicas para termos o direito e, sobretudo, o dever de participar. E para que a vivência democrática não se esgote nunca no voto é necessário ir às Assembleias e às reuniões da Câmara como forma de participar activamente nos destinos e na organização da autarquia. É nisto que consiste a política e é por isso que todos somos políticos: quando nos ocupamos da vida comum, do destino comum, dos confrontos comuns. Como refere André Comte-Sponville “Não fazer política é renunciar a uma parte do teu poder, o que é sempre perigoso, mas também a uma parte das tuas responsabilidades, o que é sempre condenável. (…) É preciso pois agir, lutar, resistir, inventar, salvaguardar, transformar… É para isso que serve a política.”